Fonte: Super Esporte
Já acabaram as seletivas olímpicas no taekwondo. Mas ainda resta uma chance de o Brasil conquistar uma outra vaga para as Olimpíadas de Londres (o país já tem dois lugares assegurados). E é confiando nessa possibilidade que o paulista Márcio Wenceslau trabalha atualmente.
Medalhista em dois Jogos Pan-Americanos (foi prata no Rio-2007 e bronze em Guadalajara-2011) e com uma Olimpíada no currículo (Atenas-2004), Márcio afirma que foi “roubado de uma forma absurda” durante o Pré-Olímpico do México, no ano passado. Por conta disso, ele entrou com o pedido por um wild card no Comitê Olímpico Internacional (COI), uma espécie de convite olímpico, dado geralmente a atletas de países com menor expressão no esporte.
O problema foi que, no último fim de semana, em seletiva realizada em Aracaju, o paulista, de 31 anos, perdeu a vaga na Seleção Brasileira para o brasiliense Guilherme Dias, 19. O resultado pode complicar as chances de Márcio carimbar o passaporte para Londres.
Até a decisão do COI sair, a situação do lutador — vencedor do Prêmio Brasil Olímpico nos dois últimos anos — na Seleção Brasileira segue indefinida. Apesar disso, Wenceslau afirma, em entrevista ao Correio, que continuará vestindo o uniforme verde-amarelo ao menos até o fim do ano, quando irá pensar em sua possível aposentadoria. Ele conta que aprova a renovação no time nacional e diz que vê em Guilherme Dias um de seus sucessores.
Qual é a chance de você conseguir a vaga para as Olimpíadas?
Eu acho que é muito grande pelo meu posicionamento no ranking. Atualmente, sou 5º e os próximos Jogos são no Brasil. A forma com que a minha luta foi conduzida (no Pré-Olímpico do México) é uma coisa que não deve acontecer, porque eu estava com a vaga garantida e o árbitro computou um chute que não pegou no meu rosto. Fui roubado de uma forma muito absurda.
Perder a vaga na Seleção Brasileira atrapalha a sua busca por essa vaga?
De maneira alguma. Até porque meu foco não era a Seletiva. Todos os atletas que vão para as Olimpíadas não competiram, porque neste mês de janeiro já começa o treinamento para os Jogos. Como o meu caso está pendente, eu tive que lutar. Só que em dezembro nós tivemos as competições mais difíceis e estou exausto. Nenhum corpo aguenta. Não cheguei com gana de ser campeão, era uma coisa que estava fora dos meus planos. Mas quando eu ganho eu celebro, quando eu perco eu aprendo.
Você conhecia o Guilherme, que te derrotou?
Não conhecia, só tinha ouvido falar. Ele é um atleta muito talentoso. O biotipo dele é bem preparado para o colete eletrônico e ele estava bem adaptado. Tem tudo para estourar. Mas ele treinou para ganhar de mim, viu milhões de vídeos, sabia até a hora que eu ia piscar. E eu não treinei. Isso faz toda a diferença. Ele é um grande atleta, lutou muito bem. Só espero que ele não pense que só porque ganhou do Márcio Wenceslau está tudo bem. Tem muitos outros campeões por aí para ele derrotar.
Você continua na Seleção este ano?
Com certeza, não vai mudar nada até sair o resultado da minha vaga olímpica (sem data definida).
Se fala muito em renovação da Seleção Brasileira e que os atletas atuais estão velhos. Você tem 31 anos. Ainda se vê em condições de lutar pelo Brasil?
A partir do momento que eu não estiver mais sendo útil para o Brasil, vou procurar outra coisa para fazer. Sou formado em educação física e tenho pós-graduação. Posso ser técnico, preparador, ajudar essa molecada. Tem que ter renovação mesmo. Está chegando uma rapaziada nova e eles estão ganhando de todo mundo. Mas eles precisam ser de alto rendimento internacional, tem que ser atleta bom ao extremo, ir para fora e pegar experiência.
Por quanto tempo você ainda vai lutar?
Pelo menos neste ano ainda eu continuo. Quero ganhar uma medalha olímpica e participar de mais um Pan-Americano (de Taekwondo).
Há também uma troca no comando dos técnicos, em pleno ano olímpico. Isso é benéfico?
É benéfico. Se o trabalho que está sendo feito não está tendo resultado, tem que trocar. É igual no futebol: a culpa é do técnico. É nisso que a nossa Confederação acredita e eu também.
E como está a atual base do taekwondo brasileiro?
Precisa ter um trabalho mais sério. Não é só treinar no Brasil. É pegar a rapaziada e jogar eles no mundo. Só vão aprender lá fora, com os Opens (torneios abertos) e enfrentando os lutadores da Coréia e de outros países.
Como você vê o Diogo Silva e a Natália Falavigna para as Olimpíadas? Eles têm chances de medalhas?
Têm chances grandes. São atletas que já competiram e tiveram uma boa colocação (Natália foi bronze e Diogo, 4º, em Pequim-2008). E agora eles estão fazendo uma ótima preparação.
O Diogo Silva criticou em entrevista a gestão do Carlos Arthur Nuzman, que já está há quase 20 anos comandando o COB. Você acha que isso atrapalha o desenvolvimento do esporte?
Eu acredito que não. Eu não fico visando os grandalhões. O taekwondo é um esporte que não cresceu o que deveria ter crescido. Então, a gente tem que focar internamente. Eu, por exemplo, não tenho colete eletrônico para treinar. São essas coisas que me preocupam.