terça-feira, 17 de maio de 2011

Entrevista com André Alex Lima, taekwondista brasileiro de sucesso



André Alex Lima, taekwondista e ator, brasileiro de sucesso no exterior, hoje radicado nos EUA, nos concedeu uma entrevista sobre sua vida, visão e opiniões, aproveitem!
Uma infinidade de nomes vai aparecendo e desaparecendo do Taekwondo, como você consegue manter essa longevidade sem perder o ritmo? A única maneira da pessoa durar décadas nas artes marciais é transformando a prática num estilo de vida, não se pode resumir a carreira somente às horas em se que fica dentro da academia treinando ou dando aula. No meu caso é como funciona, continuo as artes marciais pelas 24 horas: em casa, na rua, no dia de folga, na roupa atlética que uso e até na hora em que vou ao restaurante observo o que vou comer. Lutador não come "porcaria", não desiste do treinamento quando completa 30 anos, não vira preguiçoso quando se casa e tem filhos, não tem medo de colocar uma faixa branca na cintura e aprender outro estilo, não perde o entusiasmo. Também acho a forma física muito importante, principalmente se o sujeito é mestre ou professor deve procurar estar em forma, eu também gosto de fazer musculação, correr e faco ginástica funcional 2 vezes por semana, me mantenho atualizado na parte técnica e nas mudanças de regra, de vez em quando trago alguma pessoa de fora para dar uma atualizada na academia e sempre treino e dou aulas de Jiu-Jitsu. Me orgulho de nunca ter abandonado o taekwondo e acho que o segredo de se manter sempre entusiasmado está relacionado com a criatividade e a cabeça aberta do praticante. O treino de qualquer estilo de luta torna-se repetitivo depois de 15 anos de prática, ai o sujeito tem que inovar e aprender outro estilo; fazer uma yoga, ginástica natural e se adaptar as circunstâncias dos novos tempos, precisa reinventar e modificar a rotina. A cada 10 anos o taekwondo passa por mudanças tanto técnicas como na parte estrutural, o que era certo há dez anos atrás agora pode ser considerado errado, então o pessoal que dá uma paradinha fica rapidamente desatualizado acaba desistindo pois não consegue acompanhar mais.

Academia Lima em Los Angeles
Qual é a sua visão das novas gerações de competidores do taekwondo?O que observo nos jovens praticantes é que a cada 5 ou 6 anos vem uma nova geração de faixas pretas empolgados com competição, mas depois de um tempinho se tornam vítimas da rápida metamorfose da WTF. Grande parte dos praticantes de vários esportes de contato e do próprio taekwondo são descartáveis devido a natureza de um treinamento, que exige muito da pessoa em termos de tempo e dedicação, pois ninguém consegue virar campeão treinando 3 vezes por semana. Hoje em dia a garotada recebe aquela lavagem cerebral do sonho olímpico e fica com aquele sonho, ilusão, na cabeça achando que ganhar uma medalha é o grande objetivo da prática e tenta virar atleta. Como no geral, esporte amador não dá dinhero na maioria dos países e o nível competitivo de hoje em dia é bem alto, exigindo muito treino e sacrifícios e acaba se tornando impossível para muitos continuarem com a aventura; então o praticante cai na realidade e desiste. Para fazer um trabalho sério de competição o sujeito tem que viver para o treinamento, tem que esquecer festinha, namorada, bebida, farra e até os amigos que não lutam, se não seguir esta regra está iludido.

Lima na gravação do filme "Beyong the Ring"
Até que ponto o sonho olímpico pode ser considerado uma ilusão?Para alguns atletas as Olimpíadas são realmente uma possibilidade real, tem pessoas obstinadas e programadas para vencer os obstáculos mais difíceis e chegaram lá, alguns tem uma aptidão física mais favorável para o esporte. É maravilhoso ver um atleta sério batalhando dia e noite pelo seu sonho, principalmente se for brasileiro. Aconselho qualquer indivíduo que pretende se aventurar por vários anos a ser campeão olímpico a se manter na realidade e desenvolver um plano B para a sua vida, acho que tem hora certa para cada um tentar, mas tem aqueles que decidem continuar batalhando até depois dos 30 anos de idade, visto que realmente existe a possibilidade de conseguir, porém aconselho estes a desenvolverem uma fonte de renda segura para não comprometer o futuro. Geralmente dou este conselho para os meus alunos competidores aqui nos EUA, apoio todos mas também alerto os mais jovens, pois já presenciei alguns indivíduos jogarem suas vidas no "lixo" por causa do taekwondo. Conheço alguns casos lamentáveis aqui nos EUA, de jovens praticantes que se meteram no taekwondo e depois de levarem uma lavagem cerebral de mestres e treinadores malucos largaram a escola, família, universidade e um futuro garantido em outra áreas para entrarem "numa roubada" e hoje estão mais velhos e arrependidos. O jovem atleta tem que entender que campeões olímpicos fazem parte de um grupo bem menor do que 1% do taekwondo e com esse título pode-se temporariamente ficar famoso, virar herói esportivo, dar entrevistas, porém são raríssimos os casos que alguém ganhou algum dinheiro. Os outros 99% dos candidatos ao grande título são os que não vão conseguir e também não vão ganhar nada. Aqui nos EUA por exemplo, ganhar uma medalha olímpica no taekwondo não dá repercussão nacional, visto a quantidade de medalhas que o país ganha em outros esportes mais populares e bem patrocinados, porém em outros países pode ter uma importância maior.
Com 23 anos de sucesso no exterior, uma rede de academias em Los Angeles e ainda estrelou um filme em Hollywood, você se considera uma pessoa que teve sorte?Sorte é uma palavra complexa. Tem pessoas que nascem em berço de ouro, tem mulheres que são lindíssimas sem nenhuma dieta ou exercício, tem gente que ganha na loteria e tem gente que tenta, tenta e não consegue. Eu concordo que realmente tem algumas pessoas com mais sorte que outras porém existe a sorte natural e a sorte construída, eu mesmo nunca tive essa sorte natural e acabei desenvolvendo a minha formula particular de sorte, jogo no time que acredita que sorte pode ser criada, sou um nordestino que sonhava realizar algumas coisas aqui nos EUA e consegui. Sorte para mim se traduz na combinação de dois fatores que são a “preparação” buscando a “oportunidade”, ou seja, eu me preparei lentamente para os meus objetivos e fui morar no lugar certo, corri atrás da oportunidade, insistindo até encontrá-la pois as coisas nunca vieram bater na minha porta quando eu morava no Ceará.

Lima em Brasília na academia Choi
O que representa para você ser um nordestino que se tornou reconhecido mundialmente no taekwondo?
O nordestino não tem opção, tem que ser casca grossa pois já nasce tendo que enfrentar um problema natural da região que é o clima de deserto. Quando eu morava no Piauí e no Ceará sentia a presença forte do sertão que apresenta características extremas de aridez, falta de água, muita areia e pedras. Até os animais e plantas têm uma característica comum e uma habilidade de sobreviver com pouca água. Como cidadão, o nordestino é generalizado e rotulado no sul do país como “Paraíba” mas na verdade o nordeste possui diversas diferenças culturais que distinguem um estado do outro, pelos contumes locais de cada um, sotaque próprio e de uma maneira sútil, até certas rivalidades entre os estados. O nordestino é historicamente um povo sofrido, enfrenta a sede, a fome, sofre a falta de recursos e muitos não tem o privilégio da educação, mas é um povo que enfrenta tudo sem reclamar, é trabalhador, quando cai se levanta rápido e acima de tudo é genuinamente brasileiro. Eu nasci no Piaui, morei em Brasilia onde aprendi taekwondo, depois morei no Ceará, Paris, Nova Iorque e agora estou em Los Angeles há mais de 20 anos. Sem dúvidas o nordeste foi o local que teve a maior e melhor influência na minha vida. Ser nordestino significa ser forte!
Aqui no Brasil você tem um grupo enorme de admiradores no taekwondo, e naturalmente os críticos, deixe uma mensagem a todos e desde já agradecemos esta entrevista.Desejo tudo de bom aos meus amigos, sucesso ao meus admiradores, muito obrigado pela atenção.  Quando vejo alguém bem de vida também tenho este costume de admirar e as vezes uso o sucesso alheio como inspiração pessoal, principalmente quem deu duro e está colhendo os frutos do trabalho. No meu passado houve épocas em que muitas coisas deram errado mas segurei "a onda" algumas vezes, quando estava basicamente no "meio da fogueira" me levantei das cinzas e aqui estou. Quando tem gente se incomodando com o que você faz, com a sua carreira e das suas conquistas a ponto de falar mal, significa que você está no caminho certo. Paciência aos críticos e invejosos, pois tiveram que ler mais esta entrevista e muitas outras que virão por ai! Obrigado ao BANG.COM.BR, site que é reconhecido internacionalmente, por esta oportunidade.

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